"A Democracia e o fortalecimento do Estado de Direito são pilares fundamentais da integração regional".

O QUE VIMOS EM CARACAS: UMA BANDEIRA COMO ABAIXO-ASSINADO


O jornalista venezuelano Carlos Javier Arencibia transformou a bandeira 
do Mercosul em documento de protesto Foto: Félix Zucco / Agencia RBS

Uma reportagem especial no caderno DOC e um especial digital apresentam neste sábado o que ZH constatou em quatro dias que esteve em Caracas, capital da Venezuela. O repórter de Zero Hora Léo Gerchmann e o fotojornalista Félix Zucco viajaram acompanharam a crise política, econômica e social que se agrava a cada dia no país.

O cenário sobre a conturbada Venezuela inclui filas para conseguir produtos básicos, como água, farinha e papel higiênico, além de criminalidade e repressão policial. Léo é um repórter especializado em América latina, foi correspondente em Buenos Aires pelo jornal Folha de S.Paulo e atua como repórter internacional de ZH desde 2008. Em ZH, assina colunas onde publica notícias sobre a região.

— Desde 2010, é a quarta vez que vou à Venezuela. Acompanhei uma degradação violenta. Usei a palavra “caos” no início da reportagem, porque é a mais apropriada. O repórter mantém a visão distante para descrever os fatos, mas há momentos de muita tristeza. É impossível ser indiferente — conta Léo.

Em meio a toda essa aridez política, o escritor e jornalista venezuelano Carlos Javier Arencibia, 25 anos, tem percorrido Caracas com uma bandeira do Mercosul. Dirigindo um Renault Clio por todos os cantos, Arencibia, ex-líder estudantil, se diz um esquerdista que defende o choque capitalista no seu país para então dar vazão a políticas assistenciais, no antigo método de fazer o bolo crescer para depois dividi-lo. A bandeira lhe foi enviada em 30 de novembro do ano passado pelo documentarista brasileiro Dado Galvão - o mesmo que trouxe a dissidente moderada cubana Yoani Sánchez ao Brasil quando o governo de Raúl Castro dava os primeiros sinais de abertura. Nas palavras de Arencibia, a bandeira é "objeto de uma campanha pela cidadania e pela democratização venezuelana". Em resumo, é um gigantesco abaixo-assinado.

Autor do livro Testemunhos da repressão, Arencibia pretende levar a bandeira pelo território venezuelano. As pessoas poderão assinar e escrever nela mensagens com suas inquietações. O jornalista trabalha, na peregrinação, com a estudante Sairam Rivas, que ficou 155 dias presa em 2014 por "questões de consciência". 

No seu livro, Arencibia detalha a violência policial e militar exercida pelo governo de Maduro em 2014. Naquele ano, o chavismo prendeu 3.765 pessoas, conforme dados da ONG Foro Penal. O jornalista entrevistou 16 jovens detidos durante a onda de protestos contra Maduro. Todos relatam a violência de agentes da Polícia Nacional Bolivariana (PNB), da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) e do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin). 

Betania Farrera, uma das estudantes que depuseram para Arencibia, diz: 

– Meteram-me presa para me provocar medo. No fim, o que conseguiram foi me fortalecer. Aspiro a um país sem delinquência, onde se possa transitar tranquilo a qualquer hora, por qualquer parte. Quero levar meus sobrinhos para o parque à noite, quero que não faltem medicamentos, que tenhamos hospitais públicos adequados e comida sem precisar fazer fila, um país sem divisões. (Léo Gerchmann - Zero Hora)